Pó enamorado: E as Montanhas Ecoaram, Khaled Hosseini

Khaled Hosseini retratou o amor filial   e o Afeganistão  e arrasou as tabelas. Outono de 1952, Afeganistão. Na aldeia isolada de Shadbagh, ...

segunda-feira, março 18, 2013

Roger Penrose | Do outro mundo



Na ficção-prólogo de Ciclos de Tempo: Uma Visão Nova e Extraordinária do Universo, Priscilla, professora de Astrofísica, tenta explicar ao sobrinho, Tom, uma série de questões, do funcionamento de um velho moinho de água à termodinâmica e ao Big Bang. Pelo meio, o miúdo exclama: «Estás mesmo à espera que eu acredite nisso?» Talvez lhe ocorra a si dizer o mesmo quando ler este ensaio de 2010 do físico-matemático inglês Roger Penrose (n. 1931), um dos génios da ciência atual. Ficará a conhecer um novo e revolucionário esquema cosmológico: o modelo CCC, da Cosmologia Cíclica Conforme.
Penrose esclarece logo no início que só os peritos devem ler os apêndices. Para os outros, os leigos, reservou o miolo do livro e uma «estranha sequência de raciocínio». Na primeira parte, reflete sobre a segunda lei da termodinâmica e a noção de entropia/desordem. Tudo estaria bem, porque o faz em linguagem e com exemplos acessíveis, se não terminasse a apontar um erro, a levantar «possibilidades exóticas» e a questionar: as leis dinâmicas servirão mesmo a singularidade excecionalíssima do Big Bang?
A resposta (um redondo «não») é dada na segunda parte, bem mais complexa. Penrose percorre as teorias da relatividade geral de Einstein, do estado estacionário, da RCF (radiação cósmica de fundo), do espaço-tempo de Minkowski ou Friedmann (através de diagramas conformes), do colapso de Oppenheimer-Snyder, dos buracos negros, dos buracos brancos ou da inflação cósmica. Tudo para concluir que pode ter existido um estado inicial do universo, anterior ao Big Bang e caracterizado por uma elevada entropia! Eis, por fim, a terceira parte, e o modelo CCC. Preparado? Segundo Penrose, aquilo que temos por o nosso universo pode estar afinal entalado entre dois éons (ciclos incomensuráveis de tempo): uma região do espaço-tempo «pré-Big Bang» e um futuro muito remoto, onde tudo renasce «no Big Bang do novo éon». No epílogo, Tom diz: «E essa é a ideia mais maluca que já ouvi!» Todavia, não custa nada imaginá-la.

Ciclos de Tempo, Roger Penrose, Gradiva, 347 págs., 20 euro

SOL / 08-03-2013
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)